Caças, submarino nuclear e navios de guerra: as armas enviadas pelos EUA para proximidades da Venezuela

Milhares de militares americanos, além de navios e aeronaves dos EUA, estão atualmente estacionados no Caribe, enquanto cresce a tensão entre Estados Unidos e Venezuela.


Julia Braun | BBC News Brasil em Londres

Donald Trump confirmou na quarta-feira (15/10) que autorizou a agência de inteligência CIA a conduzir "operações secretas" dentro da Venezuela — e disse que estava considerando ataques a cartéis de drogas no país.

O destróier USS Sampson na Cidade do Panamá, em 2 de setembro de 2025 | Anadolu via Getty Images

Forças dos EUA já realizaram pelo menos cinco ataques a barcos suspeitos de transportar drogas no Caribe, perto da costa venezuelana, nas últimas semanas, matando 27 pessoas.

A Casa Branca afirma estar comandando um esforço para reprimir o narcotráfico na região e acusa o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar o Cartel de los Soles, grupo classificado como organização narcoterrorista.

Falando no Salão Oval, na Casa Branca, Trump disse que os EUA "estão analisando operações em terra" enquanto consideram novos ataques na região.

Em meio a essa escalada, o comandante do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), almirante da Marinha Alvin Holsey, anunciou nas redes sociais nesta quinta (16) que se aposentaria até o final do ano.

Sua área de atuação inclui o Mar do Caribe, onde os EUA realizaram ataques contra barcos acusados de participar do tráfico de drogas a mando de Trump.

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, elogiou a carreira de Holsey e escreveu nas redes sociais que o almirante "demonstrou um compromisso inabalável com a missão, o povo e a nação".

Segundo o jornal New York Times, ainda não está totalmente clara a motivação para a saída repentina de Holsey, mas duas fontes afirmaram que o almirante havia demonstrado preocupação com as missões ordenadas por Trump e com os ataques a barcos.

Segundo a CBS News, parceira da BBC nos Estados Unidos, atualmente há cerca de 10.000 soldados americanos posicionados no Caribe, em navios ou em terra em Porto Rico.

A Marinha americana também enviou, desde agosto, ao menos oito navios de guerra e um submarino para as proximidades da Venezuela, de acordo com a imprensa americana.

O destróier USS Sampson, o navio de assalto anfíbio USS Iwo Jima e o destróier de mísseis guiados USS Gravely foram localizados na região.

Em setembro, Trump, ordenou o envio de 10 jatos F-35 para Porto Rico. Os caças têm mais de 10 metros de envergadura e podem alcançar uma velocidade máxima de aproximadamente 1953 km/h em altitude.

O submarino de propulsão nuclear USS Newport News e o cruzador de mísseis guiados USS Erie também foram enviados pelos EUA na mesma época.

Ainda foram divulgadas informações sobre aeronaves de reconhecimento P-8 dos EUA no Caribe.

Escalada entre EUA e Venezuela

O aumento da capacidade militar americano no Caribe acontece em um momento de escalada entre Estados Unidos e Venezuela.

Trump fez da luta contra o tráfico de drogas uma prioridade e, em julho, assinou uma diretriz secreta para permitir que as forças armadas dos EUA atacassem os cartéis de drogas latino-americanos que ele define como grupos "terroristas".

No mesmo mês, Washington estabeleceu que há uma organização "terrorista" na Venezuela chamada Cartel dos Sóis, chefiada por Maduro e outras autoridades venezuelanas de alto escalão, conectada a outros grupos descritos da mesma forma, como o Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa.

No início de agosto, o governo Trump aumentou para US$ 50 milhões sua recompensa por informações que levem à captura de Maduro.

Em um memorando vazado e enviado recentemente a parlamentares americanos, o governo Trump afirmou ter determinado seu envolvimento em um "conflito armado não internacional" com organizações de narcotráfico.

No ataque mais recente dos EUA, na terça-feira (14/10), seis pessoas foram mortas quando um barco foi alvo próximo à costa venezuelana.

Na rede Truth Social, Trump afirmou que "a inteligência confirmou que a embarcação estava traficando narcóticos, estava associada a redes narcoterroristas ilícitas e transitava por um corredor conhecido de tráfico de drogas."

Como ocorreu em ataques anteriores, autoridades dos EUA não especificaram qual organização de tráfico de drogas acreditavam estar operando o barco, nem quem eram as pessoas a bordo.

De acordo com o jornal The New York Times, a autorização de Trump para "operações secretas" dentro da Venezuela permitiria que a CIA realize operações de forma unilateral ou como parte de qualquer atividade militar mais ampla dos EUA.

Ainda não se sabe se a CIA está planejando operações na Venezuela, ou se esses planos estão sendo mantidos apenas como contingência.

Falando com repórteres no Salão Oval, ao lado do diretor do FBI, Kash Patel, e da procuradora-geral, Pam Bondi, Trump foi questionado sobre a reportagem do New York Times.

"Autorizei por duas razões, na verdade", disse ele. "Número um: eles [Venezuela] esvaziaram suas prisões e enviaram [os presos] para os EUA."

Ele acrescentou: "E a outra coisa são as drogas. Recebemos muitas drogas vindo da Venezuela, e grande parte das drogas venezuelanas entram pelo mar, então você precisa ver isso, mas também vamos detê-las pela terra."

O presidente se recusou a responder quando perguntado se a autorização à CIA permitiria à agência derrubar Maduro.

(Com reportagem de Ione Wells e Bernd Debusmann Jr, da BBC News)

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