
Senhor  Diretor de Redação,
Em relação à matéria "Submarinos de R$ 19 bilhões" ("Submarinos com preço  no céu"), publicada em 15 de agosto, no jornal "O Globo",  na qual é abordado o Programa de Desenvolvimento de Submarinos, a Marinha do  Brasil (MB) esclarece os seguintes aspectos:
A matéria afirma que a construção do novo estaleiro e da base naval no litoral  fluminense resulta de exigência do governo francês.
Ora, a construção de um estaleiro que atenda aos requisitos tecnológicos e  ambientais essenciais, para que nele se possa construir um submarino de  propulsão nuclear, bem como a de uma nova base naval capaz de abrigá-lo,  constituem necessidades apresentadas pela Marinha desde o final dos anos 1970,  quando deu início ao seu Programa Nuclear. Até a localização é a mesma que já  havia sido selecionada pela MB, em 1993. Atribuir tais construções à hipotética  exigência francesa denota desconhecimento, para dizer o mínimo. Essas obras são  necessárias porque os referidos requisitos não são atendidos, hoje, por nenhum  dos estaleiros existentes no Brasil. Além do que, a atual base de submarinos,  por exemplo, localizada no interior da Baía de Guanabara, junto à ponte  Rio-Niterói, sequer tem profundidade junto ao cais para permitir a atracação de  um submarino desse tipo, além de não atender aos requisitos ambientais que se  impõem.
Assim, a construção do estaleiro e da base constitui requisito indispensável  para a fabricação e operação do submarino de propulsão nuclear, nada tendo a  ver com "operação  casada". Por outro lado, como é evidente, não  teria sentido uma construtora francesa ser mobilizada para realizar obras no  Brasil, daí a necessidade de a DCNS (Directions de Constructions Navales Services)  se associar a uma empresa brasileira, com a qual teve que estabelecer acordos  de confidencialidade, por conta da tecnologia a ser transferida. A escolha da  associada foi do livre arbítrio da DCNS, que, apesar da permanente ênfase em  apontá-la como estatal, opera, de acordo com as leis francesas, como empresa privada.  De sua parte, a Marinha nada tem a opor à escolhida. Afinal, cabe aqui a  pergunta: que argumentos teria o Governo Brasileiro para recusar a contratação  de um consórcio do qual faz parte a Odebrecht? Ou de qualquer outra grande  construtora nacional?
Cabe esclarecer que qualquer que fosse a empresa selecionada pela DCNS como  parceira para construir esse estaleiro, as obras seriam isentas de processo  licitatório, como previsto em lei, em virtude das características de sigilo de  que, obrigatoriamente, se reveste: são plantas de instalações nucleares  militares, envolvendo características que não podem ser objeto de divulgação  pública.
Releva notar, ainda, que, ao apontar o custo dos submarinos, o autor valeu-se  de simplificações comprometedoras. Ao excluir do preço total (€ 6,8 bi) o  preço do estaleiro e da base (€ 1,8 bi), dividindo o resultado (€ 5  bi) por cinco, acreditou ter encontrado o preço de cada submarino convencional  (€ 1 bi). Ledo engano; esqueceu-se de que a proposta francesa inclui  quatro submarinos convencionais, com respectiva transferência de tecnologia de  construção; a transferência de tecnologia de projeto de submarinos, inclusive  de seus sistemas de combate e de controle automatizado da plataforma; o projeto  e a construção de um submarino de propulsão nuclear, cujo custo é muito  superior ao de um convencional; e, finalmente, o projeto e a construção de um  estaleiro dedicado à fabricação de submarinos de propulsão nuclear (e  convencionais) e de uma nova base naval, capaz de abrigá-los. A simplificação  permitiu a conclusão falaciosa de que "cada embarcação custará pouco mais de duas  vezes mais o valor da oferta feita anteriormente por uma empresa da  Alemanha".
No que concerne à transferência de tecnologia, há um contrato específico que  detalha toda a tecnologia a ser transferida pelos franceses e absorvida pela  Marinha. Há, ainda, um acordo de compensações (offset), estabelecendo as  áreas tecnológicas que serão objeto de transferência para a indústria nacional,  envolvendo, no momento, mais de trinta empresas brasileiras.
"MARINHA PREFERIA OUTROS  SUBMARINOS"
Analisando  por partes, deve ser inicialmente ressalvado que não existe proposta da HDW (Howaldtswerke Deutsche Werft),  de outubro de 2007, para "fabricar mais cinco submarinos no Brasil, além de modernizar os  cinco já existentes, por um total de 2,1 milhões de euros".  A afirmativa é tão inverossímil que não resiste à mais elementar aritmética,  haja vista que, logo adiante, o autor conclui que "cada embarcação, portanto, sairia por 437 milhões  de euros – pouco mais de duas vezes mais barata que os Scorpène",  sem se dar conta de que, de acordo com esses cálculos, a modernização dos cinco  já existentes sairia "de graça". Parece má fé, principalmente por  tentar fazer crer que algo supostamente aprovado pela COFIEX em 2006 (essa data  foi omitida) pudesse, de alguma forma, estar relacionado com uma proposta  apresentada em outubro 2007. Em primeiro lugar, a COFIEX, na verdade, nada  aprovou, posto que nada foi publicado no Diário Oficial da União. Depois, a  proposta efetivamente encaminhada àquele órgão dizia respeito à modernização  dos cinco submarinos existentes e a construção de APENAS UM submarino.  Posteriormente, tendo a Marinha se decidido pela modernização dos seus IKL com  sistemas americanos, a custo muito inferior do que aquele cobrado pelos  alemães, a HDW apresentou proposta de substituir as modernizações pela  construção de um segundo submarino, mantendo o mesmo custo inicial, isto é,  € 670,97 milhões. Ademais, um fato até agora não mencionado, mas que  releva notar, é que no preço dos submarinos alemães não está incluído o custo  total da mão-de-obra de construção, posto que as obras seriam realizadas no  Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), por funcionários de carreira da  Marinha, sem o cômputo desses custos no preço dos submarinos.
Por outro lado, é verdade que, em 
Desde 2004, em face da proximidade do término da construção do Submarino  Tikuna, último dos IKL construídos no AMRJ, a Marinha, com vistas à manutenção  das construções, tanto para não perder a tecnologia, quanto para repor os meios  que dessem baixa, realizou estudos com vistas à seleção de um projeto de  submarino que melhor atendesse aos seus requisitos estratégicos. Depois de  criteriosa análise dos projetos existentes, foram selecionados três que, em  diferentes graus, atendiam àqueles requisitos: o AMUR 1650, da Rússia, o IKL  214, da Alemanha, e o Scorpène, da França. Todos de mesma geração tecnológica.
Dos estudos, resultou que o projeto que melhor atendia à Marinha era o do  Scorpène, não só por seu projeto tecnologicamente mais moderno, mas por uma  série de outras características, particularmente, por seu maior intervalo entre  manutenções, fator primordial para um País cujos interesses marítimos se  estendem, prioritariamente, pela vastidão do Atlântico Sul.
Entretanto,  naquela época, não havia qualquer perspectiva de se poder levar adiante o  programa nuclear, - maior meta da Marinha -, que, à custa exclusiva do  orçamento da Força Naval, desde 1996, vinha sendo mantido em estado quase  vegetativo. Naquele contexto, a Marinha se viu forçada a propugnar por uma  solução paliativa, pleiteando a construção de apenas mais um submarino. Nesse  caso específico, tendo em vista a existência de cinco submarinos alemães,  decidiu optar pela escolha do projeto do submarino IKL 214, da HDW alemã,  buscando manter a mesma linha logística, por um lado, e, por outro, evitar que  a escolha de projeto diferente, para a construção de uma única unidade, pudesse  ensejar retaliações dos alemães, mediante o boicote de sobressalentes para os  submarinos existentes, por exemplo. No início de 
Depois de tomada essa decisão, a Administração Naval houve por bem dar  conhecimento do fato ao seu público interno, mediante a publicação da  informação no Boletim de Ordens e Notícias, como é praxe na Instituição.
Não obstante, no início de 2007, o Presidente Lula, depois de conhecer em mais  detalhes o Programa Nuclear da Marinha, em visita às instalações do Centro  Tecnológico da Marinha, em ARAMAR, decidiu assegurar recursos para a  finalização do programa, possibilitando a retomada do processo que, ao fim e ao  cabo, levaria à construção do submarino de propulsão nuclear, cujas tratativas  estão, hoje, em vias de ser concluídas.
Essa, a grande e fundamental mudança havida. Graças à nova visão do mais alto  escalão político do País, a Marinha não mais estava fadada a postergar seus  planos relativos à posse de submarinos de propulsão nuclear.
Para levá-los adiante, contudo, não obstante ter logrado êxito na construção,  faltava à Marinha a capacidade de desenvolver projetos de submarinos. Nesse  mister, o caminho seguido pelas potências que produzem submarinos nucleares foi  o de evoluir, por etapas, a partir do pleno domínio do projeto de  convencionais, para o de um submarino de propulsão nuclear, cujos requisitos,  em termos de tecnologia e controle de qualidade, superam de muito aqueles de um  convencional. Assim, o caminho natural para o Brasil seria, da mesma forma, o  de desenvolver sucessivos protótipos, até que se chegasse a um projeto capaz de  abrigar uma planta nuclear. Como não se dispõe do tempo nem dos recursos  necessários para tanto, a solução delineada pela Marinha, no intuito de –  com segurança – saltar etapas, foi a de buscar parcerias estratégicas com  países detentores de tais tecnologias e que estivessem dispostos a  transferi-la. No nosso caso, tendo em vista o processo evolutivo indispensável,  a parceria teria que ser buscada junto a países que produzissem,  simultaneamente, submarinos convencionais e nucleares. Depois de longo e  acurado processo de escolha, a França foi o país selecionado, porquanto seu  único concorrente, a Rússia, não desejava transferir tecnologia, mas,  tão-somente, vender submarinos, o que não correspondia aos interesses do  Brasil.
É  preciso enfatizar que somente quem constrói submarinos de propulsão nuclear tem  condições de transferir a tecnologia necessária para tanto. Não basta saber  construir submarinos, haja vista que a própria França, - que já construía  submarinos -, levou 29 anos entre a decisão de construir um nuclear e ter o  primeiro deles 
Ainda a propósito, cumpre esclarecer que, diferentemente do que está dito na  matéria, segundo a qual, além dos quatro submarinos convencionais, se está  adquirindo "mais  um casco que - daqui a 20 anos – viria a receber um reator desenvolvido  pelo Brasil", na realidade, o protótipo do reator  estará pronto em 2014 e o submarino de propulsão nuclear brasileiro, em 2021.  Algo diferente de "daqui a 20 anos". Aqui, deve ser ressaltado que  o reator nuclear e seus controles, que serão instalados no submarino de  propulsão nuclear, serão totalmente projetados e fabricados pelo Brasil, com  base no protótipo ora em construção pela Marinha. Essa tecnologia não será  transferida pela França.
Quanto ao aspecto apresentado como curioso, de a França não empregar o  Scorpène, de fato, não só a França, mas nenhum dos países ocidentais que operam  submarinos de propulsão nuclear, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a  própria França e a Rússia, empregam submarinos convencionais. Apenas a China  opera ambos os tipos de submarinos.
Quanto à opinião expressa pelo Deputado Julio Delgado, a Marinha já se colocou  à disposição daquele parlamentar, desde 05 de agosto de 2009, para uma  exposição completa de todo o projeto, de modo a que todos os esclarecimentos  lhe sejam prestados e eliminadas todas as dúvidas. Até o momento, não foi  encontrado espaço na agenda do deputado.
Atenciosamente,
CENTRO  DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA MARINHA
