Participação do país em missão da ONU no Líbano garantiria presença militar no Oriente Médio
Fábio Zanini, Luis Kawaguti - Folha de SP
O Brasil deverá ter uma presença militar no Oriente Médio, seguindo a estratégia do governo Lula de tornar o país um ator relevante na conturbada região.O governo está em conversas avançadas para integrar o comando da Unifil, a missão de paz das Nações Unidas no sul do Líbano. As tratativas começaram no primeiro semestre. Segundo o DPKO (Departamento de Operações de Paz da ONU), a negociação está em “finalização de detalhes”, mas não há prazo para sua conclusão.
A presença teria diversas etapas. A primeira, em estado mais  adiantado, é assumir o comando da força naval da Unifil, atualmente a  cargo dos italianos. O Brasil deve enviar de cinco a dez oficiais  graduados da Marinha, que comandarão uma frota de oito navios e 885  homens. Segundo um diplomata que acompanha a negociação, esse convite já  foi “pré-aceito”, mas é preciso que o acordo passe pelo Congresso  Nacional. A segunda etapa, ainda em estágio embrionário, prevê enviar de  250 a 300 homens do Exército para a missão, que tem no total 11.449  homens de 31 países. A Unifil, criada em 1978, tem como tarefa evitar  confrontos entre o Exército de Israel e guerrilheiros do Hizbollah,  milícia xiita que não aceita o Estado judeu. Nem sempre isso é possível:  a última guerra na região foi em 2006. Outro objetivo é impedir a  entrada ilegal de armas na região.
Em agosto, um estudo técnico sobre o envio das tropas foi elaborado  pelo Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército) e está  atualmente em análise no Ministério da Defesa. Se concretizada, essa  será a maior mobilização militar do Brasil em território estrangeiro  desde a missão no Haiti, que se iniciou em 2004 e tem hoje 2.166  militares. O Brasil atualmente integra dez missões de paz da ONU, mas,  com exceção do Haiti, tem apenas observadores militares e especialistas.
Nenhum no Oriente Médio
Numa etapa final, o Brasil forneceria à ONU equipamentos, que ainda  estão sendo negociados. A maioria deles seria de veículos militares  blindados para transporte de tropas de combate. Procurado pela  reportagem, o Ministério da Defesa afirmou que “ainda não há decisão  sobre o assunto”.
Embarcação
A Folha apurou que a ONU pede que o Brasil envie ao menos uma  embarcação para integrar a frota, mas o Ministério da Defesa reluta,  alegando que isso prejudicaria a depauperada estrutura da Marinha. As  tropas do Exército podem ser apresentadas como uma contrapartida.
  Diplomatas ouvidos pela Folha sob condição de anonimato afirmaram que,  independente da formalização do acordo sobre a parte naval, um primeiro  pelotão do Exército já poderia viajar no ano que vem. O pedido de  integrar o comando da Unifil foi encarado pelo Itamaraty como mais uma  oportunidade de “entrar no jogo” no Oriente Médio - após tentar  intermediar um acordo com o Irã na área nuclear e servir de interlocutor  na libertação de uma americana presa em Teerã. Seria, na visão da  diplomacia brasileira, um trunfo para realizar o antigo sonho de ser  chamada para ajudar na resolução do conflito Israel-Palestina, além do  reconhecimento de maior estatura internacional. 
