Os atos de Kiev não permitem que os peritos internacionais tenham possibilidades de realizar uma investigação objetiva das causas da queda do Boeing da Malaysia Airlines.
Natalia Kovalenko | Voz da Rússia
A operação militar dos militares ucranianos na zona da tragédia contraria o disposto na resolução da ONU de 21 de julho. Já a “fuga” da informação sobre a descodificação prévia das caixas-pretas prejudica claramente a investigação.
Desde o momento da queda do Boeing malaio na Ucrânia já passaram quase duas semanas, mas os peritos internacionais ainda não têm um panorama completo do local dos acontecimentos. Os especialistas da Holanda, da Austrália e da OSCE, que trabalham na Ucrânia, partem diariamente para a zona da queda dos destroços do avião, mas regressam frequentemente sem resultados. Eles simplesmente não conseguem aceder ao local da tragédia porque o exército ucraniano está aí realizando operações militares.
Apesar das promessas do presidente Piotr Poroshenko de cessar as hostilidades num raio de 40 km e de permitir um trabalho sem obstáculos dos peritos, os militares decidiram de forma diferente. Os militares ucranianos declararam a intenção de tomar sob seu controle a zona da queda do Boeing, para o que estão usando artilharia pesada. Isso é uma violação direta da resolução 2166 da ONU.
Assim, os procedimentos de investigação não apenas se atrasam, muitos detalhes, já para não falar dos restos mortais das vítimas, são cada vez mais difíceis de descobrir e identificar.
Aliás, Kiev nem está interessado na realização de uma investigação objetiva. Até este momento ainda não foram divulgados (nem foram entregues aos peritos!) os dados dos meios de controle objetivo ucranianos. São mantidas em segredo as gravações das comunicações entre o controlador aéreo ucraniano e os pilotos do avião.
Os EUA também não se apressam a entregar à mídia ou aos especialistas internacionais a informação proveniente de seus satélites, referiu o chefe da diplomacia russa Serguei Lavrov:
“Logo que foram decifrados os dados dos meios de vigilância objetiva da Rússia, referentes ao dia em que ocorreu a catástrofe, nós tornámo-los públicos, os materiais correspondentes foram divulgados na qualidade de documentos oficiais na ONU e na OSCE. Nós não compreendemos porque é que os norte-americanos, que dizem ter umas provas irrefutáveis da sua versão, não as apresentam. Uma investigação para ser objetiva deve ser honesta e baseada em fatos. Devem ser apresentadas as gravações das comunicações entre os serviços do controle aéreo ucraniano com o Boeing e com outros aviões que sobrevoassem a área nesse momento. Mas esses controladores estão neste momento proibidos de falar seja com quem for, Tudo isso levanta uma grande quantidade de questões e de dúvidas.”
Mas não perder a iniciativa informativa, Kiev partilha com a imprensa dados confidenciais sobre o decorrer da investigação das caixas-pretas do avião sinistrado. Isso viola os princípios fundamentais do relacionamento entre as partes durante as investigações de incidentes aéreos e não ajuda ao inquérito, sublinham os holandeses.
Contudo, isso distrai as atenções da opinião pública das questões que foram colocadas a Kiev e que Kiev não se apressa a responder. Por que alterou o Boeing sua rota, velocidade e altitude pouco antes da queda? Por que ía ele escoltado por um caça ucraniano? Com que objetivo foi transferida para essa região uma bateria antiaérea ucraniana, se o inimigo do exército ucraniano não possui aviação?
Aliás, o fato de as guarnições das baterias antiaéreas ucranianas na bacia do Don terem sido repentinamente colocadas de prevenção pode ter sido a causa da tragédia. O perito militar Viktor Baranets não exclui o lançamento de um míssil por engano:
“Depois de, em 2001, um sistema ucraniano de mísseis antiaéreos S-200 ter abatido um avião de passageiros Tu-154 no mar Negro, um decreto presidencial e uma ordem do ministro da Defesa da Ucrânia suspenderam todos os treinamentos com lançamentos de mísseis antiaéreos. Imagine, ao longo de 13 anos não foi efetuado um único lançamento, nem sequer de treinamento. De que profissionalismo podemos falar, se a defesa antiaérea ucraniana não funciona há 13 anos? Mas eis que surge uma situação de combate e muitos oficiais são mobilizados da situação de reserva. Eles tiveram de conhecer apressadamente, em poucos dias, um material no qual se descobriram muitas avarias. A essa pressa se juntou o pânico. É por isso que eu admito essa hipótese.”
Kiev não tenciona reconhecer sua culpa, mesmo que isso se deva a um acaso fatal. Isso também é complicado para Washington, que apoiou desde o primeiro minuto a versão dos acontecimentos apresenta pelas autoridades ucranianas. Por isso a investigação é prejudicada a todos os níveis.
É evidente que a comissão de investigação internacional há de acabar por descobrir a verdade. Mas quanto mais tarde isso acontecer, menor será o impacto na opinião pública. Ou então irá acontecer mais alguma coisa que atraia as atenções do mundo. Parece que é mesmo isso que esperam Kiev e seus apoiantes.