Em meio a uma crise financeira que afeta muito as Forças Armadas do Brasil, a disponibilização de imóveis de alto luxo para a cúpula militar chama a atenção pela possível imoralidade e falta de contexto com a situação atual do país e – pior – diverge muito da condição dos militares que ocupam lugares nas bases das Forças Armadas, que recebem remuneração considerada muito baixa em comparação com outras carreiras de estado e acabam, após transferidos para cidades como Salvador e Rio de Janeiro, tendo que morar nas periferias ou favelas por falta de condições financeiras para arcar com alugueis de alto valor.
Sociedade Militar
A situação tem chamado a atenção nas últimas semanas e – de fato – exige um olhar crítico sobre a administração dos bens públicos destinados aos altos oficiais militares e a real necessidade de – em um país que não tem participação em conflitos bélicos – manter-se imóveis residenciais de luxo e fortemente guardados por pelotões inteiros armados, para famílias de oficiais que ocupam lugar nas cúpulas armadas do país.
Imagem de morro Gavazza / Marinha: Google Maps |
Reportagens recentes da Revista Sociedade Militar sobre a construção de uma residência de alto padrão em Brasília ao custo de 3.8 milhões de reais para uso exclusivo de um oficial general, acabaram chamando a atenção da grande mídia e do Congresso Nacional, que já discute a possibilidade de alienação de bens desse tipo, captando recursos para utilização naquilo que é realmente necessário nas Forças Armadas.
Na discussão no Congresso, destacada pela Revista Veja, mencionou-se que o almirante, comandante da Marinha em Salvador, teria à disposição uma mansão de frente para o mar, em altíssimo padrão. É verdade. Entretanto, o que os parlamentares não sabem é que na verdade são pelo menos três imóveis de alto padrão a disposição do Vice- Almirante que comanda a Marinha do Brasil em Salvador
Todos os imóveis a disposição do Comandante do 2º DN são caracterizados pelo extremo luxo, com amplos jardins, piscinas e vistas panorâmicas. É um contraste gritante frente à falta de imóveis funcionais para o restante dos militares e às dificuldades financeiras enfrentadas pela maioria dos membros das Forças Armadas.
As residências de luxo a disposição dos almirantes e de seus convidados
1 – A residência espetacular no Morro do Gavazza, com vista para o mar e perto do Farol da Barra – apontada na reportagem mencionada – fica na área mais valorizada de Salvador. Um apartamento simples na região pode custar 2 milhões de reais. O valor do aluguel fica na casa dos 12 mil reais mensais. Entretanto, segundo apurado pela Revista Sociedade Militar, para usar a residência, segundo a regulamentação da Marinha, o almirante que comanda o distrito naval desconta 5% do seu soldo, o que hoje equivale a aproximadamente 650 reais.2 – A residência de altíssimo padrão na da Boca do Rio, que fica dentro da Base naval de Aratu, com uma área verde imensa e um lago com paisagismo planejado, tem também uma piscina de ótimo tamanho e um trapiche bastante bucólico sobre o lago com tilápias e outros peixes. O imóvel chegou a ser compartilhado com a então presidente Dilma em 2011, mas antes passou por uma reforma, que custou mais de 600 mil reais.
3 – A residência na Praia de Inema, com vista para a Bahia de Todos os Santos, no Bairro de São Tomé de Paripe, tem nas proximidades um clube e segurança particular feita por militares armadas; Há também nas proximidades um hotel de trânsito para oficiais da Marinha. A praia é considerada como uma das mais belas e calmas de salvador e é permanentemente vetada para uso da sociedade civil. Nem mesmo militares de baixa patente podem usufruir das belezas naturais do local.
Cortes orçamentários e estrutura precária para cumprimento das missões
Enquanto muitos militares lidam com infraestrutura precária, falta de equipamentos e cortes orçamentários, a cúpula militar desfruta de um padrão de vida elevado. A disparidade entre as condições de vida dos altos oficiais e o restante dos militares levanta questionamentos sobre a moralidade da gestão de recursos públicos em tempos de crise.Além disso, alguns militares que, transferidos para outras cidades, não têm à sua disposição os próprios nacionais residenciais e, com isso, são obrigados a pagar aluguel e residir em bairros distantes do trabalho, inevitavelmente acabam se sentindo frustrados ao ver situações desse tipo, onde oficiais de alta patente recebem das Forças Armadas muito mais do que precisam.
Outros comentários de militares dizem respeito a equipamentos obsoletos e falta de equipamentos de segurança.
“Arriscamos as nossas vidas e, às vezes, por causa de equipamentos ultrapassados e navios muito velhos, trabalhamos muito mais do que o normal, por isso acredito que a força deveria gastar mais dinheiro no que é realmente necessário e menos em regalias para quem tem estrelas nos ombros”.
As residências em questão, inicialmente apontadas em artigo publicado pela Revista Sociedade Militar, não se limitam a ser o que poder-se-ia qualificar como imóveis funcionais, mas se destacam como mansões luxuosas, mais semelhantes a resorts do que a acomodações para militares e seus familiares submetidos a uma rotina castrense.
Em um contexto onde as Forças Armadas enfrentam dificuldades financeiras e na Marinha se fala até em desativar meios flutuantes, conforme discurso feito pelo Almirante Olsen no Congresso Nacional, a atual disponibilização de tais imóveis para a cúpula da instituição levanta sérios questionamentos sobre a necessidade de implementar princípios de ética na utilização dos recursos públicos.
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