O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, ameaçou Israel neste sábado (21) com uma resposta "ainda mais devastadora" para seus ataques e descartou a interrupção do programa nuclear de seu país, no nono dia de guerra entre os dois arqui-inimigos.
France Presse
A Guarda Revolucionária do Irã anunciou cedo neste domingo (22, hora local de Teerã) que lançou um ataque com drones contra Israel, uma nova onda no décimo dia de guerra.
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Mulher ferida em bombardeio israelense recebe tratamento em um hospital de Teerã, em 21 de junho de 2025 © ATTA KENARE |
"Uma onda ampla de drones de ataque e camicazes se dirige há várias horas rumo a seus alvos estratégicos em todo o território" israelense, afirmou o porta-voz da Guarda Revolucionária, Ali Mohammad Naini, citado pela televisão estatal iraniana.
Israel atacou neste sábado a cidade de Shiraz, no sul do Irã, que abriga bases militares, ativando os sistemas de defesa aérea, segundo a mídia iraniana.
"As defesas aéreas de Shiraz foram acionadas em algumas áreas da cidade para lutar contra alvos hostis e aviões sionistas", assinalou a agência de notícias Mehr.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu na sexta-feira que o Irã tem duas semanas no "máximo" para evitar possíveis bombardeios de Washington.
- 'Mais devastadora' -
"Nossa resposta à agressão contínua do regime sionista será ainda mais devastadora", advertiu Pezeshkian durante uma conversa telefônica com o presidente francês Emmanuel Macron, segundo a agência oficial de notícias iraniana Irna.Israel afirmou que a "campanha" militar contra o Irã será "longa" e seu chanceler, Gideon Saar, considerou que a guerra "adiou em pelo menos dois ou três anos" o desenvolvimento de uma bomba atômica pelo Irã.
Israel lançou em 13 de junho uma ampla campanha de ataques aéreos contra o Irã com o objetivo de evitar que seu arqui-inimigo adquira uma bomba atômica.
Os bombardeios israelenses atingiram centenas de instalações militares e nucleares na República Islâmica, e tiraram a vida de militares de alto escalão e cientistas envolvidos no programa nuclear.
O Irã nega que deseja adquirir armas atômicas e defende o seu direito a desenvolver um programa nuclear civil. "Não concordamos em reduzir as atividades nucleares para zero em nenhuma circunstância", disse Pezeshkian.
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o diplomata argentino Rafael Grossi, declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que não há indícios de que o Irã esteja fabricando armamento nuclear.
Israel, por outro lado, não divulga informações sobre seu suposto arsenal atômico, mas o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI) estima que o país do Oriente Médio dispõe de 90 ogivas nucleares.
- Três comandantes mortos -
Irã e Israel trocaram ataques mutuamente neste sábado, e várias explosões fora ouvidas durante a noite nas zonas central e norte de Teerã, segundo jornalistas da AFP.O Exército israelense anunciou que eliminou três altos responsáveis da Guarda Revolucionária.
A AIEA confirmou que bombardeios israelenses atingiram uma fábrica de centrífugas -- usadas para enriquecer urânio -- nas instalações nucleares de Isfahan, no centro do Irã, mas sem consequências em "termos de radiação".
O chefe da Organização Iraniana de Energia Atômica, Mohammad Eslami, afirmou hoje, em um comunicado oficial, que o reator de Arak, no centro do país, atacado na quinta-feira por Israel, estava dedicado às áreas de saúde e medicina.
"Os produtos da instalação de Arak são utilizados em setores de saúde e medicina. Vocês [Israel] atacam um centro ativo no campo da pesquisa sobre os radiomedicamentos", disse.
Segundo o último balanço do Ministério da Saúde iraniano, divulgado neste sábado, mais de 400 pessoas morreram e mais de 3.000 ficaram feridas desde o início da guerra.
Os ataques de represália iranianos teriam deixado pelo menos 25 mortos em Israel, segundo autoridades desse país.
- Duas semanas -
O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, após se reunir em Genebra na sexta-feira com seus pares alemão, francês e britânico, afirmou que seu país não retomará as negociações nucleares com os Estados Unidos até que os bombardeios israelenses cessem.Embora não mantenham relações diplomáticas há quatro décadas, os Estados Unidos e o Irã realizaram desde abril várias rodadas de negociações sobre o programa nuclear de Teerã.
A ofensiva israelense interrompeu esses contatos e o presidente dos Estados Unidos considera agora realizar uma intervenção direta no conflito.
Trump declarou na sexta-feira que o Irã tem no "máximo" duas semanas para evitar possíveis ataques aéreos dos Estados Unidos.
Os rebeldes huthis do Iêmen, que concluíram em maio um acordo de cessar-fogo com Washington, ameaçaram hoje atacar navios americanos no Mar Vermelho em caso de intervenção dos Estados Unidos.