Mesmo após crise, militares brasileiros mantêm alinhamento estratégico com os EUA

Documentos e dados revelam que a cooperação com Washington já era predominante antes de 2025 e se mantém ativa


Por Cleber Lourenço | ICL Notícias

A crise diplomática e comercial que se instalou entre Brasil e Estados Unidos em 2025, marcada por tarifas adicionais, disputas comerciais e declarações públicas duras, não mudou o rumo da política de cooperação das Forças Armadas brasileiras. Pelo contrário, operações conjuntas, treinamentos, intercâmbios e aquisições de alto valor demonstram que a parceria militar segue robusta e continua sendo tratada como prioridade estratégica.


Antes mesmo desse cenário de atrito, levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já apontava a predominância norte-americana como destino militar brasileiro no exterior. Entre 2020 e 2023, 42% de todos os cursos internacionais realizados por militares brasileiros aconteceram nos Estados Unidos.

Nesse período, 134 militares foram enviados para capacitações no país, sendo 97 oficiais superiores — um número quase dez vezes maior que o registrado em qualquer outro parceiro internacional. O estudo ressalta que essa concentração não é neutra e envolve, além de aspectos técnicos, um alinhamento doutrinário de longo prazo.

A presença militar brasileira em território norte-americano é singular. A aditância em Washington é a única a manter três oficiais-generais simultaneamente — adido naval, adido do Exército e adido de defesa e aeronáutico — estrutura inexistente em outras representações do Brasil no exterior. Além disso, os EUA lideram o destino de pós-graduações stricto sensu para militares, funções em organismos internacionais, postos de oficiais de ligação e estágios especializados, reforçando a centralidade dessa relação.

Militares brasileiros confirmam manutenção da parceria com os EUA

Num contexto internacional marcado pela disputa de espaço entre grandes potências e pela crescente atuação de China e Rússia na América Latina, ofertas desses dois países para estreitar a cooperação militar com o Brasil não prosperaram. Segundo fontes militares, propostas de fornecimento de equipamentos, acordos de transferência de tecnologia e programas de treinamento chegaram a ser apresentadas, mas não avançaram.

Em 2025, já em meio à crise com Washington, o Exército confirmou a continuidade de contratos via programa Foreign Military Sales, do Departamento de Estado norte-americano, incluindo a aquisição de 12 helicópteros Black Hawk, avaliados em US$ 451 milhões, e 222 mísseis Javelin, estimados em US$ 74 milhões. Essas transações, isentas de tarifas por serem fechadas diretamente entre governos, complementam o cronograma de exercícios conjuntos, como a operação CORE, e a participação de militares brasileiros em treinamentos e intercâmbios operacionais nos EUA.

O estudo do Ipea alerta que a concentração de esforços em um único parceiro pode comprometer a autonomia estratégica do Brasil, reduzindo a capacidade de absorver diferentes doutrinas e tecnologias militares. A recomendação é diversificar parceiros, fortalecer a presença em outras potências emergentes e ampliar a participação em iniciativas multilaterais, equilibrando a política de defesa externa.

No entanto, o cenário atual demonstra que, para as Forças Armadas, a ligação com Washington permanece sendo a espinha dorsal da estratégia internacional brasileira na área militar, sustentada por décadas de cooperação e alinhamento estratégico.
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