Caixa foi encontrada no quartel do 4° Batalhão de Infantaria Mecanizado do Exército, em Osasco (SP)
Por Gonçalo Junior | O Estado de S.Paulo
Em 28 de agosto de 1921, uma cápsula do tempo foi enterrada embaixo da pedra fundamental do quartel do 4° Batalhão de Infantaria Mecanizado, Regimento Raposo Tavares, em Osasco, na Grande São Paulo, em cerimônia que incluiu o presidente da República, Epitácio Pessoa, e o então general Candido Rondon.
Em 28 de agosto de 1921, uma cápsula do tempo foi enterrada embaixo da pedra fundamental do quartel do 4° Batalhão de Infantaria Mecanizado, Regimento Raposo Tavares, em Osasco, na Grande São Paulo, em cerimônia que incluiu o presidente da República, Epitácio Pessoa, e o então general Candido Rondon.
Entre os objetos escolhidos pelos militares do Exército para serem descobertos no futuro estava um exemplar do Estadão.
O noticiário da época falava sobre os efeitos de uma Europa em conflito, assim como hoje na Ucrânia. A capa daquele dia destacava as reparações impostas à Alemanha pela deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Foram guardados ainda outros jornais intactos, como o Correio Paulistano e a Tribuna de Santos, além de 11 moedas de réis, utilizadas no Brasil até 1942.
Esses fragmentos preservados da história do Brasil no início do século 20 - cuja descoberta exigiu até o uso de câmera endoscópica para vasculhar o terreno - foram revelados em uma cerimônia em Osasco, no dia 28 de agosto, exatos 104 anos depois.
Em geral, as cápsulas do tempo reúnem objetos representativos de um contexto histórico e são lacradas para serem abertas no futuro. É uma prática antiga e comum – caixas assim já foram enviadas até para o espaço pelas sondas Voyager, da agência espacial americana (Nasa).
A descoberta tem uma dimensão simbólica para o tenente-coronel Leonardo Kuwabara. “As notícias da época, como as dificuldades do período entre as guerras, trazem um exemplo de superação importante para as novas gerações”, afirma o comandante do 4º Batalhão de Infantaria Mecanizado (4º BI Mec).
O simbolismo é tão forte que os militares decidiram repetir a iniciativa: uma nova caixa do tempo será lacrada em breve, com objetos semelhantes, para ser aberta dentro de um século. Mais um exemplar do Estadão iniciará uma nova viagem no tempo. Em 2025, o jornal celebra 150 anos.
O evento do último dia 28 também homenageou 188 militares que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – a contribuição do País no conflito está completando 80 anos.
Fechamento da cápsula incluiu presidente e o Marechal Rondon
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Cerimônia de lançamento da pedra fundamental e fechamento da cápsula do tempo, em 1921, em um quartel do Exército em Osasco (SP) Foto: 4 BIMEC / DIVULGAÇÃO |
As fotografias em branco e preto da cerimônia de 1921, os trajes dos participantes e a ata de inauguração evidenciam a importância do evento.
Participaram o presidente Epitácio Pessoa, o governador de São Paulo, Washington Luís, e o engenheiro militar Marechal Candido Rondon, à época diretor de Engenharia do Exército. O então general Rondon participava da maioria das inaugurações militares.
O único brasileiro que dá nome a um Estado, Rondônia, já era cientista, estadista, defensor dos direitos indígenas e figura de destaque no Exército brasileiro.
Não há informações precisas sobre sua participação direta na confecção da cápsula, mas ele seguramente vistoriava os projetos, de acordo com historiadores e especialistas em História Militar.
“A cerimônia de assentamento da pedra servia para marcar o início das obras e reunir as principais autoridades do País e da sociedade local como forma de sinalizar o desenvolvimento do País”, explica o major de Artilharia Felipe Faulstich, instrutor na Seção de Simulação da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e pesquisador de História Militar.
“Já a cápsula do tempo é uma forma de materializar aquele acontecimento, para que as gerações futuras pudessem vivenciar aquele momento e resgatar aquele feito histórico”.
O 4º Batalhão de Infantaria Mecanizada (4ºBIMec) é um dos mais antigos do País. Hoje, o agrupamento conta com 680 militares.
O batalhão participou de missões humanitárias importantes, como a tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul em maio do ano passado, além de ações estratégicas de segurança, como a pacificação nas comunidades do Rio de Janeiro.
Construção de cápsulas do tempo era comum no Exército
Pesquisando fotos antigas, ele identificou padrões nas plantas das edificações, descobrindo evidências de caixas semelhantes em várias cidades, entre elas, Joinville (SC), Itajubá (MG), Curitiba, São Leopoldo (RS). Várias já foram abertas.
Em São Paulo, a descoberta da cápsula foi uma espécie de caça ao tesouro. Não havia registro sobre sua localização exata. Além da pesquisa historiográfica, uma câmera endoscópica, parecida com aquela utilizada em exames e procedimentos médicos, foi utilizada para confirmar que ela estava embaixo da pedra fundamental do quartel.
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