Reitor da Unicamp anunciou o fim da parceria com o Instituto Tecnológico Technion, em protesto às mortes e violações de direitos humanos na Faixa de Gaza
Sidney Gonçalves do Carmo | CNN
O reitor da Unicamp, Paulo Cesar Montagner, anunciou nesta terça-feira (30) a rescisão unilateral e imediata do acordo de cooperação da universidade com o Instituto Tecnológico Technion, de Israel, em protesto ao que classificou como genocídio na Faixa de Gaza. O anúncio foi feito durante sessão do Conselho Universitário (Consu).
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O reitor Paulo Cesar Montagner, da Unicamp, durante a sessão ordinária do Conselho Universitário • Divulgação |
Segundo Montagner, a universidade acompanhava com preocupação a escalada das ações do governo israelense contra o povo palestino. "A situação se deteriorou de tal forma que as violações aos direitos humanos e à dignidade da população palestina se transformaram em uma constante inaceitável", afirmou o reitor, em documento que formaliza a rescisão. A parceria havia sido firmado em setembro de 2023.
Um mês depois, em 7 de outubro de 2023, o grupo extremista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, bombardeou Israel, deixando milhares de mortos e centenas de reféns. Israel lançou uma campanha militar contra Gaza. O número de palestinos mortos na Faixa de Gaza subiu para 65.062, com 165.697 feridos, desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, informaram as autoridades de saúde do território palestino em 17 de setembro.
O convênio com o Technion tinha como objetivo fomentar a cooperação acadêmica, por meio de projetos de pesquisa em comum, intercâmbio de docentes e pesquisadores, além de permitir que estudantes de graduação e pós-graduação obtivessem reconhecimento de créditos em cursos pré-aprovados pela instituição parceira.
A decisão de rompimento, segundo Montagner, reforça um posicionamento alinhado ao governo brasileiro, que condena as ações de Israel, e se soma a medidas de várias universidades internacionais que também manifestaram repúdio ao conflito.
Fundado em 1924, o Technion é uma das principais instituições de ensino superior de Israel. A universidade conta com mais de 15 mil estudantes, distribuídos em 17 faculdades e 60 centros de pesquisa.
Em setembro de 2023, quando o acordo foi firmado, o então reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, afirmou que a "aproximação com instituições como o Technion significa um passo importante em direção à internacionalização da universidade, algo que considera ser um grande desafio".
Entenda a guerra na Faixa de Gaza
A guerra na Faixa de Gaza começou em 7 outubro de 2023, depois que o Hamas lançou um ataque terrorista contra Israel. Combatentes do grupo radical palestino mataram 1.200 pessoas e sequestraram 251 reféns naquele dia.Tropas israelenses deram início a uma grande ofensiva com bombardeios e por terra para tentar recuperar os reféns e acabar com o comando do Hamas. Os combates resultaram na devastação do território palestino e no deslocamento de cerca de 1,9 milhão de pessoas, o equivalente a mais de 80% da população total da Faixa de Gaza, segundo a UNRWA (Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos).
Desde o início da guerra, mais de 65 mil palestino foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. A pasta, controlada pelo Hamas, não distingue entre civis e combatentes do grupo na contagem, mas afirma que mais da metade dos mortos são mulheres e crianças. Israel afirma que pelo menos 20 mil são combatentes do grupo radical.
Parte dos reféns foi recuperada por meio de dois acordos de cessar-fogo, enquanto uma minoria foi recuperada por meio das ações militares. Autoridades acreditam que cerca de 50 reféns ainda estejam em Gaza, sendo que cerca de 20 deles estariam vivos.
Enquanto a guerra avança, a situação humanitária se agrava a cada dia no território palestino. De acordo com a ONU, passa de mil o número de pessoas que foram mortas tentando conseguir alimentos, desde o mês de maio, quando Israel mudou o sistema de distribuição de suprimentos na Faixa de Gaza.
Com a fome generalizada pela falta da entrada de assistência na Faixa de Gaza, os relatos de pessoas morrendo por inanição são diários. Israel afirma que a guerra pode parar assim que o Hamas se render, e o grupo radical demanda melhora na situação em Gaza para que o diálogo seja retomado.