Perfeitamente alinhados no convés do submarino Tonelero (S 42), os funcionários da ICN aguardavam o momento do último desembarque. No alto da vela, um colaborador da ICN começou a arriar a bandeira da empresa. Era o indicativo para os demais funcionários se dirigem ao cais.
No caminho para a tenda principal do evento, o uniforme azul dos funcionários contrastava com o branco dos militares que caminhavam no sentido oposto. Era a primeira tripulação do Tonelero, tendo à frente o imediato do navio, capitão de corveta Mario Mendes Jardim Stávale. Começava assim a mostra de armamento do submarino Tonelero, uma cerimônia que oficializa a transferência do navio para o setor operativo da armada.
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Com a entrega do Tonelero e com o lançamento ao mar do Almirante Karam (S 43), respectivamente terceiro e quarto submarinos da classe Scorpène Mod encomendados pela Marinha do Brasil, o programa PROSUB caminha para o seu fim. Muitos dirão que isso não é verdade, porque a parte do programa que diz respeito ao submarino de propulsão nuclear (SN-BR) ainda está no começo e as obras da Base de Submarinos da Ilha da Madeira (BSIM) não estão totalmente concluídas. Isto é verdade, mas não tranquiliza os mil trezentos e setenta colaboradores da ICN (Itaguaí Construções Navais) que trabalham na empresa.
Por mais complexo que seja o SN-BR, ele consumirá apenas uma fração desses trabalhadores altamente especializados (não se encontram, por exemplo, soldadodores ou supervisores de solda deste nível “na esquina”). Um alento à empresa foi dado em fevereiro deste ano, com a formalização do contrato de manutenção dos submarinos da classe Scorpène (ISS 25). O acordo pode atingir os quatro submarinos que serão operados pela Marinha do Brasil. No entanto, este contrato abrange até momento apenas os períodos de manutenção do tipo IMA (Intermediate Maintenance Availability) 3, 4 e 5 do Humaitá e da SRA1 (Selected Restrictive Availability) do Riachuelo. Espera-se que no futuro o contrato seja ampliado e estendido para os demais navios da classe.
Interesse argentino?
Dentre as diversas autoridades civis e militares presentes ao evento, incluindo delegações estrangeiras, poucos notaram a presença do senhor Guillermo Daniel Raimondi, embaixador argentino no Brasil. Além de ocupar lugar de destaque no evento, seu nome foi o primeiro a ser anunciado pelo ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, durante seu discurso. Antes mesmo do embaixador francês, que também se fez presente. Curiosamente, a imprensa argentina, especializada e geral, também se fez presente.Não é de hoje que a Argentina busca novos submarinos para a sua armada. A última unidade operativa, o submarino ARA San Juan (classe TR-1700 de origem alemã), naufragou em 2017 vitimando tragicamente toda a sua tripulação. A classe TR-1700, da qual a Argentina tinha inicialmente a intenção de adquirir seis unidades, era formada pelos maiores submarinos da América do Sul e na época em que foram construídos, representavam os mais avançados.
A classe TR-1700, muito mais capaz que o IKL-209 (projeto alemão de maior sucesso em encomendas), foi projetada para atender aos requisitos específicos da Armada Argentina, sendo que dois foram construídos na Alemanha (o ARA San Juan – já mencionado, e o ARA Santa Cruz) e os quatro restantes seriam construídos na Argentina.
Dos quatro adicionais planejados, o ARA Santa Fe teve sua construção terminada em 70% do total e o ARA Santiago Del Estero em 30%. Desde a interrupção dos trabalhos nessas unidades, há cerca de 20 anos, várias vezes foram anunciadas retomadas na construção dos submarinos, sem sucesso.
Para retomar a operacionalidade da Fuerza de Submarinos, a Argentina está negociando com a fabricante francesa Naval Group a possibilidade de adquirir três unidades da classe Scorpène. O negócio, estimado em cerca de US$ 2 bilhões, encontra-se na etapa de definição da configuração técnica, cronograma de entrega e financiamento. Há interesse, por parte dos argentinos, de que os mesmos ou parte deles seja construída no próprio país. Porém, devido ao custo altíssimo para se montar uma estrutura do mesmo porte que existe em Itaguaí, os argentinos teriam que desembolsar uma quantia muito elevada.
É exatamente neste ponto em que a ICN e as instalações brasileiras entram. Os submarinos argentinos poderiam ser totalmente ou parcialmente construídos em Itaguaí, trazendo vantagens tanto para os argentinos (com custos mais baixos de produção e possibilidade de absorção de tecnologia) como para os brasileiros (que manteriam a força de trabalho).
Para quem acha que as questões geopolíticas do cone Sul podem atrapalhar ou inviabilizar tal negócio, é importante lembrar que o AMRJ já realizou manutenção em unidade argentina no passado. O primeiro submarino TR-1700, ARA Santa Cruz recebeu sua modernização de meia vida no Brasil, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), entre setembro de 1999 e 2001. A repetição da parceria poderia representar uma sobrevida para a ICN e seus colaboradores.
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