Discussões de alto nível, em andamento há dias, exploraram uma variedade de possíveis opções militares, disseram pessoas familiarizadas com o assunto
O Estado de S.Paulo
WASHINGTON - O secretário de Defesa, Pete Hegseth, e o chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine, retornaram à Casa Branca nesta sexta-feira, 14, para o segundo dia consecutivo de reuniões centradas em uma possível ação militar na Venezuela, enquanto as forças americanas na região se preparavam para possíveis ordens de ataque, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
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| O presidente Donald Trump acompanhado no Salão Oval pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, e pelo chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine | Foto: Tom Brenner / The Washington Post |
Ainda não está claro se o presidente Donald Trump decidiu prosseguir com a escalada, embora discussões de alto nível sobre se deve ou não atacar a Venezuela — e como — estejam em andamento há dias, disseram essas pessoas, falando sob condição de anonimato. Também participaram da reunião na Casa Branca o vice-presidente JD Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o vice-chefe de gabinete Stephen Miller, disseram as fontes.
Um porta-voz da Casa Branca se recusou a comentar. A assessoria de imprensa do Pentágono não respondeu ao pedido de comentário.
Um funcionário do governo disse que “uma série de opções” foram apresentadas ao presidente. Trump é “muito bom em manter a ambiguidade estratégica, e algo que ele faz muito bem é não ditar ou divulgar aos nossos adversários o que pretende fazer em seguida”, disse o funcionário.
Qualquer ataque em território venezuelano contrariaria as frequentes promessas do presidente de evitar novos conflitos e trairia as promessas feitas ao Congresso nas últimas semanas de que não havia preparativos em andamento para tal ataque. Também complicaria ainda mais a cooperação dos EUA com outros países latino-americanos e aprofundaria as suspeitas — tanto na região quanto em Washington — sobre se o objetivo final de Trump é a remoção forçada do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Maduro chegou ao poder em Caracas pela primeira vez em 2013. Em agosto, autoridades americanas aumentaram a recompensa por informações que levassem à sua prisão e condenação de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões, citando supostos vínculos com cartéis de drogas, fraude na eleição presidencial venezuelana de 2024 e sua recusa a deixar o cargo.
“Os Estados Unidos estão muito atentos ao que está acontecendo na Venezuela, às conversas entre os apoiadores de Maduro e nos mais altos escalões de seu regime”, disse o funcionário do governo. “Maduro está com muito medo, e com razão. O presidente tem opções em cima da mesa que são muito ruins para Maduro e seu regime ilegítimo.”
Os Estados Unidos mantêm uma enorme vantagem militar sobre a Venezuela, mas uma expansão significativa de suas atividades também acarreta o risco de expor as tropas americanas a graves perigos.
Pilotos de caça a bordo do USS Gerald R. Ford, um porta-aviões enviado para a região, têm estudado as defesas aéreas venezuelanas, embora ainda não saibam se receberão ordens para atacar, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. O Ministério da Defesa da Venezuela anunciou uma mobilização massiva de quase 200 mil militares da força aérea, do exército e da marinha para se preparar para defender o país.
O planejamento dos EUA também levantou a possibilidade de envolver a Força Delta, unidade de elite das Forças Armadas, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto. Essa unidade de Operações Especiais altamente treinada se prepara para uma série de missões de captura e eliminação, e teve uso frequente nas duas décadas de guerras dos EUA no Oriente Médio.
Nas últimas semanas, Trump e seus principais assessores enviaram sinais contraditórios sobre as intenções do governo. Ele expressou repetidamente o desejo de expandir “para terra firme” uma campanha que já matou cerca de 80 pessoas a bordo de pequenas lanchas supostamente envolvidas no contrabando de drogas pelo Mar do Caribe e pelo leste do Oceano Pacífico.
No entanto, enquanto o Congresso debatia uma legislação para impedi-lo de iniciar uma guerra na Venezuela, Hegseth e Rubio disseram em particular a alguns parlamentares que o governo não tinha planos de fazê-lo naquele momento — uma garantia que ajudou a convencer um número suficiente de republicanos a rejeitar a medida.
Durante uma reunião informativa no Capitólio, no final de outubro, membros da Comissão de Serviços Armados da Câmara dos Representantes perguntaram a oficiais militares se o Pentágono estava planejando alguma operação dentro da Venezuela, disse um parlamentar democrata. Eles receberam a garantia, também naquela ocasião, de que a resposta era negativa, afirmou o parlamentar.
“Estou começando a ter uma grande falta de confiança no departamento”, disse essa pessoa sobre o Pentágono, falando sob condição de anonimato porque o briefing que recebeu era confidencial. “E estou começando a acreditar que suas motivações não são puras e que eles não estão sendo sinceros e transparentes com o Congresso”.
Segundo diversas pessoas que analisaram o documento, a defesa legal vinculativa das operações militares da administração Trump na América Latina não busca justificar um ataque à própria Venezuela.
A abrangente missão militar do governo Trump na América Latina irritou alguns dos parceiros mais próximos de Washington na região. A Colômbia, colaboradora de longa data em operações de combate ao narcotráfico, anunciou esta semana a suspensão do compartilhamento de informações de inteligência com os Estados Unidos, alegando que isso se trata de um imperativo de “direitos humanos”, segundo o presidente do país, Gustavo Petro.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou esta semana que representantes de seu governo se reuniram com autoridades americanas após um recente ataque dos EUA a cerca de 640 quilômetros de Acapulco para reafirmar os acordos marítimos existentes e “impedir o uso de bombardeios contra embarcações” tão perto do território mexicano. Sheinbaum já havia declarado anteriormente que “não concordamos com esses ataques”.
Durante a reunião do mês passado, autoridades americanas e mexicanas chegaram a um entendimento de que a Marinha mexicana ficaria responsável por interceptar embarcações suspeitas de tráfico de drogas em águas próximas ao México, segundo dois funcionários do governo mexicano que falaram sob condição de anonimato para discutir a conversa privada. Um funcionário mexicano afirmou que os EUA concordaram em alertar o México antes de realizar ataques em águas internacionais próximas ao país.
Um funcionário americano negou essa informação. A Embaixada dos EUA no México recusou-se a comentar.
Com a chegada do porta-aviões Gerald R. Ford, há cerca de 15.000 soldados americanos na região, incluindo militares distribuídos em aproximadamente uma dúzia de navios de guerra e reforços enviados nas últimas semanas para instalações americanas em Porto Rico. No geral, essa presença é impressionante em uma região que historicamente contava com apenas um ou dois navios da Marinha por vez, além da Guarda Costeira dos EUA, que realizava operações rotineiras de combate ao narcotráfico, geralmente resultando na detenção de supostos traficantes e na apreensão de qualquer contrabando.
Nesta sexta-feira, havia sete navios de guerra americanos no Caribe. Entre eles, os cruzadores de mísseis guiados USS Gettysburg e USS Lake Erie; os contratorpedeiros USS Gravely e USS Stockdale; e os navios anfíbios USS Iwo Jima, USS Fort Lauderdale e USS San Antonio. O USS Ford estava próximo, no Atlântico, junto aos contratorpedeiros USS Mahan, USS Bainbridge e USS Winston S. Churchill.
The Washington Post
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