Conflito caminha a passos largos para se tornar uma guerra de grande porte e reacende o debate sobre a defesa de Israel
O Globo com agências internacionais — Tel Aviv
Durante toda a manhã desta segunda-feira, equipes limparam os escombros e removeram os destroços de um prédio de 20 andares em Tel Aviv, em Israel, atingido por um míssil iraniano na madrugada. O ponto de impacto, segundo um correspondente da BBC, deixou um buraco gigantesco no edifício, onde quatro pessoas morreram. Os ataques iranianos, portanto, estão abalando o sentimento de segurança dos israelenses sobre seu robusto sistema de defesa aérea, visto antes como impenetrável.
Duas das vítimas estavam dentro de abrigos antibombas no momento do ataque e, de acordo com uma investigação, o míssil atingiu uma parede do refúgio, que não foi capaz de suportar o impacto.
Os moradores dos outros três edifícios do complexo, também severamente danificados, têm tentado visitar seus apartamentos para pegar alguns pertences, sem saber quando poderão retornar. Cerca de 300 apartamentos estão, agora, vazios e as famílias desabrigadas.
Os moradores dos outros três edifícios do complexo, também severamente danificados, têm tentado visitar seus apartamentos para pegar alguns pertences, sem saber quando poderão retornar. Cerca de 300 apartamentos estão, agora, vazios e as famílias desabrigadas.
O ataque aconteceu por volta das 4h da manhã, mas ainda não há informações sobre qual era o alvo. Aida de acordo com a BBC, trata-se de uma área residencial e não há nenhuma instalação que possa ser vista como estratégica nas proximidades. Israel, por sua vez, acusou o Irã de atingir deliberadamente civis em seus ataques retaliatórios.
Para muitos israelenses, de acordo com o correspondente em Tel Aviv, há uma mudança de humor. Muitos achavam que o sofisticado sistema de defesa aérea de Israel era impenetrável, um sentimento que mudou desde que o Irã lançou seus mísseis. Autoridades israelenses afirmam que o sistema de defesa aérea do país "continua robusto, mas não é perfeito".
O Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, disse que, desde o início da guerra com o Irã, as equipes da Autoridade de Imposto sobre Propriedade lidaram com cerca de 14 mil reivindicações por danos causados por ataques iranianos e auxiliaram 2.775 moradores que foram deslocados. De acordo com Smotrich, até agora, 24 edifícios estão programados para demolição.
'Sentimos um lugar perigoso'
Victoria Zikov administra um bar, que foi atingido por um míssil do Irã na madrugada desta segunda, em Tel Aviv há 25 anos. Em entrevista à BBC, Victoria diz estar assustada com os ataques iranianos, mas incentiva Israel a continuar lutando.Do lado de fora, em meio aos destroços do bar, um grande pedaço de madeira caiu do andar de cima enquanto Victoria concedia entrevista ao correspondente. Ao longo da rua, as janelas ficaram penduradas por um fio, e o chão ficou coberto de cacos de vidro.
— Estou me sentindo absolutamente péssima. Não sei o que vou fazer — disse ela. Tenho muito medo dos ataques iranianos. Até ontem, eu achava que não aconteceria comigo. [Imaginava] que iríamos para a sala de segurança e que isso só aconteceria com os outros.
Mas, apesar do medo, ela está certa de que Israel deve continuar o conflito contra o Irã.
— Precisamos terminar isso, para que seja definitivo, e não adiá-lo novamente. Aqui, o tempo todo, sentimos que estamos sob ataque, em um lugar perigoso, que nossos vizinhos são maus. Estamos lutando e vivendo assim desde o estabelecimento do Estado de Israel — afirmou.
'Muito assustador'
Outro ataque iraniano a um prédio residencial em Israel deixou um buraco enorme no edifício, e, até o momento, há a confirmação de quatro mortes também. Em entrevista ao Al Jazeera, um sobrevivente descreveu o ataque.— Meu prédio foi bombardeado pelo Irã. Foi muito assustador, considerando que tenho quatro filhos. Estamos com muito medo, mas todos estão bem — contou Idan Bar, que mora no prédio na cidade de Petah Tikva, no centro de Israel.
Henn, de 39 anos, outro morador do prédio, disse que correu para se abrigar após ouvir sirenes. Ele disse ter ouvido uma forte explosão "e depois de alguns minutos vimos todos os estragos, todas as casas destruídas".
No terceiro andar, os apartamentos estavam sem parede. As janelas haviam sido arrancadas e cacos de vidro cobriam sofás, poltronas e mesas.
— Houve uma enorme explosão, mais do que apenas um estrondo — descreveu Tali Asher, de 44 anos, enfermeira que mora com a família no primeiro andar do prédio. — Os pisos e as paredes tremeram, as luzes se apagaram e a sala ficou cheia de poeira. O que vimos foi um caos total.
O apartamento de Ofir Pinsker, no terceiro andar, também foi atingido.
— Desapareceu, desabou — disse Pinsker, acrescentando que sua família havia sobrevivido ao se abrigar em um quarto fortificado.
As cenas de devastação testemunhadas em Petah Tikva são raras em Israel, onde os sistemas avançados de defesa aérea interceptam ameaças. Porém, com os ataques iranianos bem-sucedidos, essas cenas estão ficando cada vez mais rotineiras em Israel.
Com The New York Times