Mediador do conflito na Faixa de Gaza ao lado do Catar, o país estuda ao lado de outras nações árabes os contornos de uma futura gestão para a Faixa de Gaza, quando o ciclo do Hamas for encerrado.
Alexandre Buccianti | RFI no Cairo
Mesmo sem ter um acordo de paz firmado na região, o Egito já trabalha com a possibilidade do fim da guerra no território palestino. Na segunda-feira (18), o movimento islamista aceitou uma nova proposta de trégua com Israel, que não se pronunciou sobre a oferta e segue coordenando ações para a ocupação total da Cidade de Gaza.
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Egito e países árabes negociam cenário político para Gaza na era pós-Hamas © AFP - EYAD BABA |
Uma vez que o deslocamento forçado dos palestinos foi descartado, o governo egípcio já se projeta no futuro pós-Hamas. O grupo palestino de orientação sunita é historicamente vinculado à Irmandade Muçulmana, confraria banida do Egito e da Jordânia, dois países que fazem fronteira com Gaza e a Cisjordânia, respectivamente. A Irmandade também foi proibida nos dois países mais ricos do mundo árabe: Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Por isso, a iniciativa egípcia de uma comissão interina para estruturar o futuro dos palestinos na região é apoiada por Riade e Abu Dhabi.
Para o período pós-Hamas, o Egito tem mantido um diálogo permanente com a Autoridade Palestina. O primeiro-ministro palestino esteve no Egito no fim de semana, onde anunciou que a comissão interina para Gaza estava praticamente formada. A nova administração seria composta por tecnocratas e se reportaria ao governo palestino em Ramallah. Além disso, 5.000 palestinos foram enviados da Cisjordânia para o Egito para treinamento na manutenção da ordem em Gaza. Essa força policial será acompanhada por milhares de outros palestinos de Gaza assim que o cessar-fogo for estabelecido.
Evitar uma nova 'Nakba'
A preocupação egípcia visa impedir qualquer saída forçada de palestinos de Gaza depois de a paz ser selada. Os egípcios não querem uma nova “Nakba”, termo dado ao deslocamento em massa de pessoas que viviam na Palestina após a criação do Estado de Israel, em 1948.Essa possibilidade, caso venha a acontecer, seria considerada uma catástrofe econômica e de segurança pelo Egito, que, além de Israel, compartilha sua única fronteira terrestre com Gaza. Além disso, a Península do Sinai, que sofre com o terrorismo há mais de duas décadas, pode ser novamente desestabilizada.
Desde o início do conflito, em outubro de 2023, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem declarado que defende a transferência dos palestinos para outros países.
No início do ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou uma proposta de paz que não garante a permanência dos palestinos em Gaza.
Atualmente, enquanto a paz não é restaurada, o Egito tenta impedir a entrada desorganizada de palestinos em seu território. O ministro egípcio de Relações Exteriores, Badr Abdelatty, disse na segunda-feira que “não irá permitir o deslocamento em massa de palestinos da Faixa de Gaza para o Egito neste momento”.
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