Medida anunciada na semana passada e criticada por aliados dividiria Cisjordânia e a isolaria de Jerusalém Oriental
Folha de S.Paulo
São Paulo - Um plano de assentamento amplamente criticado por atravessar terras palestinas recebeu aprovação final nesta quarta-feira (20), de acordo com um comunicado do ministro das Finanças de Israel e autor do projeto, o extremista Bezalel Smotrich.
O plano consiste em construir mais de 3.400 casas no assentamento de Ma'ale Adumim — medida que, se concretizada, dividiria a Cisjordânia e a isolaria de Jerusalém Oriental, territórios palestinos ocupados por Tel Aviv. Nas palavras do gabinete de Smotrich, o projeto enterraria a ideia de um Estado palestino.
"Estamos finalmente cumprindo o que foi prometido há anos", disse o ultranacionalista nesta quarta, em um comunicado. "O Estado palestino está sendo apagado da mesa de negociações, não com slogans, mas com ações."
Apesar das críticas, o plano recebeu sinal verde final de uma comissão de planejamento do Ministério da Defesa, segundo o ministro israelense. Reiniciar o projeto, porém, pode isolar ainda mais Tel Aviv, que viu aliados ocidentais como Reino Unido e França falarem em reconhecer a Palestina diante da catástrofe humanitária na Faixa de Gaza, palco de uma guerra entre Israel e Hamas há quase dois anos.
Na quinta-feira passada (14), quando anunciou a medida, Smotrich disse que o projeto era uma reação a esses acenos. "Quem no mundo está tentando reconhecer um Estado palestino hoje receberá nossa resposta no terreno", disse ele.
No domingo, durante uma visita a Ofra, outro assentamento na Cisjordânia, voltou a comentar o assunto. "Eu disse há 25 anos que faríamos de tudo para garantir nosso controle sobre a Terra de Israel, para impedir o estabelecimento de um Estado palestino, para impedir as tentativas de nos expulsar daqui. Graças a Deus, o que prometi, cumprimos", afirmou.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não comentou o anúncio.
O Brasil foi um dos países a condenar o projeto, classificando-o de "flagrante violação do direito internacional". "Ao recordar o direito inalienável do povo palestino a um Estado independente e soberano, o Brasil insta Israel a abster-se de adotar ações unilaterais equivalentes à anexação do território palestino ocupado", afirmou o Itamaraty em uma nota divulgada na última sexta (15).
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina também condenou o anúncio nesta quarta, afirmando que o assentamento isolaria as comunidades palestinas que vivem na área e minaria a possibilidade de uma solução de dois Estados.
Já um porta-voz do governo alemão disse a jornalistas nesta quarta que a construção de assentamentos viola o direito internacional e "impede uma solução negociada de dois Estados e o fim da ocupação israelense da Cisjordânia".
Israel havia congelado os planos de construção em Ma'ale Adumim em 2012, e, após uma retomada, novamente em 2020. As suspensões ocorreram devido a objeções de aliados europeus, EUA e outras potências que consideravam o projeto uma ameaça a qualquer futuro acordo de paz com os palestinos. Agora, com Trump na Casa Branca, Tel Aviv parece mais confiante para tocar os planos.
As obras de infraestrutura podem começar em poucos meses e a construção de casas em cerca de um ano, de acordo com o grupo israelense de defesa Peace Now, que monitora a atividade de assentamentos na Cisjordânia.
Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem entre 2,7 milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental — cidade que Israel anexou em uma medida não reconhecida pela maioria dos países.
O plano de dois Estados prevê um Estado palestino em Jerusalém Oriental, na Cisjordânia e em Gaza, existindo lado a lado com Israel. Mas segundo a ONU e a maioria das potências mundiais, a expansão dos assentamentos corroeu a viabilidade dessa solução ao fragmentar o território palestino. Israel contesta isso citando laços históricos e bíblicos com a área, que chama de Judeia e Samaria.
Com Reuters
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