Pela primeira vez na França, uma multinacional será julgada por financiamento ao terrorismo na Síria. O julgamento da fabricante de cimento Lafarge começa nesta terça-feira (4), em Paris. O assunto é destaque nos principais jornais franceses.
Maria Paula Carvalho | RFI
A empresa fabricante de cimento Lafarge e oito de seus ex-executivos são acusados de terem pagado € 3,1 milhões a grupos jihadistas, incluindo o Estado Islâmico, na Síria, entre 2013 e 2014, para manter suas operações no país. Esses pagamentos, descritos em notas fiscais fraudulentas, eram destinados a manter a "segurança" das instalações, segundo a multinacional.
Os réus serão julgados pelo tribunal correicional de Paris até 16 de dezembro por financiamento de organizações terroristas. Alguns dos ex-executivos também são acusados de descumprimento de sanções financeiras internacionais.
O jornal Le Figaro descreve que, para obter lucro, a Lafarge, que posteriormente foi adquirida pelo grupo suíço Holcim, distribuiu dinheiro a criminosos em troca de uma relativa tranquilidade. Caso a denúncia seja comprovada, o crime é passível de dez anos de prisão.
Em sua defesa, a multinacional explica que a manutenção de suas atividades garantiu os empregos de profissionais sírios e impediu que instalações estratégicas caíssem nas mãos dos insurgentes.
Multa milionária nos EUA
O jornal Libération relata que a fabricante de cimento preferiu continuar atuando em Jalabiya, no norte da Síria, depois que o território foi ocupado pelo Estado Islâmico e outros grupos terroristas. As outras multinacionais francesas se retiraram da região. O diário destaca que a Lafarge já pagou uma multa nos Estados Unidos de US$ 778 milhões para evitar um processo pela mesma razão.Segundo a reportagem, ex-dirigentes do grupo justificaram que foram "orientados pelo governo francês a manter as atividades na Síria para obter informações sobre as atividades dos grupos terroristas".
A denúncia foi feita há nove anos pela associação Sherpa, o Centro Europeu para os Direitos Humanos e por antigos empregados da mulltinacional.
O jornal Le Parisien destaca que os pagamentos aos grupos terroristas não foram negados pela direção da Lafarge que, na época, argumentou ter sido "extorquida" por criminosos. Os juízes descartaram essa justificativa, alegando que a empresa poderia simplesmente ter encerrado suas atividades no país.

