Trump avalia ações contra Venezuela que vão de ataques aéreos à captura de Maduro

Trump ainda não decidiu como, ou mesmo se, prosseguirá com essas ações; Casa Branca diz que qualquer ação além de ataques contra suspeitos de narcotráfico no Caribe é especulação


Por David E. Sanger, Tyler Pager, Helene Cooper, Eric Schmitt e Devlin Barrett | The New York Times via O Estado de S.Paulo

WASHINGTON - O presidente americano, Donald Trump, avalia uma série de opções para uma intervenção militar na Venezuela que incluem ataques diretos a unidades militares que protegem o ditador Nicolás Maduro, a tomada de controle dos campos de petróleo do país e a captura ou até mesmo a morte do líder chavista, disseram diversas autoridades americanas, sob condição de anonimato, ao New York Times nesta quarta-feira, 4.

Manifestação contra os EUA reúne militantes chavistas em Caracas Foto: FEDERICO PARRA/ AFP

A Casa Branca comentou a reportagem por meio de nota. “O presidente Trump foi claro em sua mensagem para Maduro: pare de enviar drogas e criminosos para o nosso país”, disse Anna Kelly, porta-voz da Casa Branca, em um comunicado. “O presidente deixou claro que continuará a atacar os narcoterroristas que traficam narcóticos ilícitos — qualquer outra coisa é especulação e deve ser tratada como tal.”

Trump ainda não decidiu como, ou mesmo se, prosseguirá com essas ações. As mesmas fontes ouvidas pelo jornal afirmam que ele reluta em aprovar operações que possam colocar tropas americanas em risco ou que possam se transformar em um fracasso vergonhoso.

Mas muitos de seus principais assessores pressionam por uma das opções mais agressivas: a destituição de Maduro do poder. À frente dessa operação estão o secretário de Estado Marco Rubio e o conselheiro de segurança interna, Stephen Miller.

Três opções na mesa

A primeira opção de atuação militar americana na Venezuela envolveria ataques aéreos contra instalações militares, algumas das quais poderiam estar envolvidas no tráfico de drogas, com o objetivo de minar o apoio militar venezuelano a Maduro. Se o líder chavista acreditasse que não está mais protegido, poderia tentar fugir — ou, ao se deslocar pelo país, tornar-se mais vulnerável à captura, dizem as autoridades ouvidas pelo Times. Críticos dessa abordagem, no entanto, alertam que ela poderia ter o efeito oposto, de fortalecer o apoio ao líder sitiado.

Uma segunda opção prevê o envio de forças de Operações Especiais dos Estados Unidos, como a Força Delta do Exército ou o SEAL Team 6 da Marinha, para tentar capturar ou matar Maduro. Nessa opção, Trump buscaria contornar as proibições contra o assassinato de líderes estrangeiros argumentando que Maduro é, antes de tudo, o chefe de uma quadrilha de narcoterroristas, uma extensão dos argumentos usados ​​para justificar os ataques aéreos dos EUA contra barcos que, segundo o governo, transportam drogas.

Uma terceira opção envolve um plano muito mais complexo para enviar forças antiterroristas americanas a fim de assumir o controle de aeroportos e de pelo menos alguns dos campos de petróleo e infraestrutura da Venezuela.

Essas duas últimas opções acarretam riscos muito maiores para militares americanos em terra — sem mencionar os civis —, especialmente se a operação ocorrer em ambiente urbano como Caracas, a capital do país.

Trump tem se mostrado relutante em considerar ataques que possam colocar as tropas americanas em risco. Como resultado, muitos dos planos em desenvolvimento empregam drones navais e armas de longo alcance, opções que podem se mostrar mais viáveis ​​quando o USS Ford e outros navios estiverem em operação.

Em busca de embasamento jurídico

Assessores de Trump solicitaram ao Departamento de Justiça orientações adicionais que possam fornecer uma base legal para qualquer ação militar na Venezuela. Essas orientações poderiam incluir uma justificativa legal para atacar Maduro sem a necessidade de autorização do Congresso para o uso da força militar ou uma declaração de guerra.

Embora as diretrizes ainda estejam sendo elaboradas, alguns funcionários do governo esperam que elas argumentem que Maduro e seus principais assessores de segurança são figuras centrais do Cartel de los Soles, que o governo designou como um grupo narcoterrorista.

Espera-se que o Departamento de Justiça argumente que essa designação torna Maduro um alvo legítimo, apesar das antigas proibições legais americanas contra o assassinato de líderes nacionais.

Qualquer tentativa de remover Maduro colocaria o governo sob maior escrutínio quanto à justificativa legal que apresentar, dada a nebulosa mistura de razões que apresentou até agora para confrontar o líder chavista. Entre elas estão o tráfico de drogas, a necessidade de acesso americano ao petróleo e as alegações de Trump de que o governo venezuelano libertou prisioneiros nos Estados Unidos. O Departamento de Justiça não comentou o caso.

Pressão militar no Caribe

Nas últimas semanas, o governo americano tem organizado uma campanha de ataques aéreos no Caribe contra suspeitos de tráfico de drogas .

Tem havido também um aumento constante de tropas americanas na região desde o final de agosto. Há cerca de 10 mil militares americanos no Caribe, aproximadamente metade em navios de guerra e metade em bases em Porto Rico.

O Pentágono também enviou, nas últimas semanas, bombardeiros B-52 e B-1 de bases na Louisiana e no Texas para realizar missões na costa da Venezuela, no que autoridades militares chamam de demonstração de força. Os B-52 podem transportar dezenas de bombas guiadas de precisão, e os B-1 podem transportar até 34 toneladas de bombas guiadas e de alta potência.

Hesitação de Trump

O presidente emitiu uma série de mensagens públicas contraditórias sobre suas intenções, os objetivos e a justificativa para qualquer futura ação militar. Ele afirmou nas últimas semanas que os ataques a lanchas rápidas no Mar do Caribe e no Pacífico Oriental, que mataram pelo menos 65 pessoas, seriam expandidos para ataques terrestres. Mas isso ainda não aconteceu.

Questionado pela CBS News se os Estados Unidos estavam caminhando para uma guerra com a Venezuela, Trump disse no domingo: “Duvido. Não acho que estamos, mas eles têm nos tratado muito mal, não só em relação às drogas”.

Na entrevista, Trump repetiu alegações sem provas de que Maduro abriu suas prisões e hospitais psiquiátricos e enviou membros da gangue Tren de Aragua para os Estados Unidos.

Questionado se os dias de Maduro como presidente da Venezuela estavam contados, ele acrescentou: “Acho que sim, com certeza”.

Em particular, no entanto, Trump tem expressado reservas ao plano, segundo os assessores ouvidos pelo NYT, em parte devido ao receio de que a operação possa fracassar. Trump não tem pressa em tomar uma decisão e questionou repetidamente o que os Estados Unidos poderiam obter em troca, com foco específico na extração de parte do valor do petróleo venezuelano para os Estados Unidos.

Trump provavelmente não será forçado a tomar uma decisão pelo menos até a chegada do Gerald R. Ford, o maior e mais novo porta-aviões dos Estados Unidos, ao Caribe, em algum momento em meados deste mês.

O Ford transporta cerca de 5 mil marinheiros e possui mais de 75 aeronaves de ataque, vigilância e apoio, incluindo caças F/A-18.

O aumento da presença militar tem sido tão rápido e tão público que parece fazer parte de uma campanha de pressão psicológica sobre Maduro. De fato, Trump falou abertamente sobre sua decisão de emitir uma “autorização” que permite à CIA conduzir operações secretas dentro da Venezuela — o tipo de operação que presidentes quase nunca discutem com antecedência.
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