Veja todas as ações da Força Naval Componente durante o maior evento internacional sobre o clima
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Augusto Rodrigues , Primeiro-Tenente (RM2-T) Larissa Vieira e Primeiro-Tenente (T) Rafaella Leal | Agência Marinha de Notícias
Durante toda a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a Marinha do Brasil (MB) manteve presença nos rios, portos e áreas sensíveis da Região Metropolitana de Belém (PA). Integrada ao Comando Operacional Conjunto “Marajoara”, a Força Naval Componente (FNC) mobilizou quase três mil militares, além dos seus meios navais, aeronavais e de Fuzileiros Navais, que foram empregados no apoio às ações de segurança, no apoio logístico e no fortalecimento da pesquisa científica em um dos eventos internacionais mais relevantes para o meio ambiente.
As atividades foram planejadas detalhadamente nos meses que antecederam o evento e atingiram o pico operacional durante a Cúpula dos Chefes de Estado (6 e 7 de novembro) e a COP30 (10 a 21 de novembro).
Prontidão, permanência e capacidade expedicionárias são algumas das características estratégicas do Poder Naval demonstradas em toda a operação. Os Grupos-Tarefa subordinados à FNC dividiram-se em pontos sensíveis da Região Metropolitana de Belém para a manutenção da segurança durante a cúpula internacional.
Efetivo e operação integrada
Ao todo, 2.792 militares foram destacados para as ações ligadas à COP30, incluindo tripulações de navios, equipes de Operações Especiais, unidades ribeirinhas, Aviadores, grupos de inspeção naval. A operação reuniu diferentes meios navais, desde navios hidroceanográficos, navios patrulha, embarcações da Capitania dos Portos e até o Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”. Além das embarcações, aeronaves e viaturas terrestres foram empregados na segurança e proteção de pontos estratégicos do evento.
Essa estrutura foi coordenada a partir de quatro Grupos-Tarefa responsáveis pelo “Comando e Controle”, “Segurança Fluvial”, “Operações Ribeirinhas” e “Apoio Logístico”. A FNC esteve sediada no NAM “Atlântico”, que atuou como centro de operações. A bordo do navio, também esteve disponível uma ampla unidade hospitalar e aeronaves para pronta resposta em caso de acionamento médico e de resgate.
Segurança reforçada em rios, portos e áreas sensíveis
A Marinha realizou patrulhas nos rios Pará e Guamá, assegurando a livre navegação e prevenindo incidentes em áreas próximas ao perímetro do evento. Navios e embarcações de inspeção atuaram realizando abordagens, fiscalizações e escoltas de embarcações autorizadas.
A chegada de grandes transatlânticos a Belém, usados como hospedagens flutuantes, exigiu ações específicas de controle marítimo. Equipes do Comando Operacional Conjunto “Marajoara”, junto à Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), conduziram vistorias nos navios de passageiros, com verificações de segurança, cumprimento de normas internacionais e varreduras Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (NBQR) e antibombas, assegurando a recepção segura de delegações e visitantes. Também foram conduzidas, pela Marinha do Brasil, varreduras antibombas e de detecção desses agentes nocivos em salas VIPs e veículos.
A Marinha também atuou na escolta e segurança do Presidente da República, seja na estadia na Base Naval de Val de Cães ou durante visitas a comunidades ribeirinhas no oeste do Pará e na região do Entorno de Belém. O Presidente e sua comitiva visitaram, no dia 2 de novembro, a Aldeia Vista Alegre do Capixauã, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns em Santarém (PA), e a Comunidade Jamaraquá, localizada na Floresta Nacional do Tapajós, município de Belterra (PA). No dia 3, o Presidente Lula visitou a Comunidade Quilombola Itacoã-Miri, no município de Acará (PA).
As estruturas classificadas como Zonas de Retaguarda, como o Porto de Belém, Terminal Petroquímico de Miramar, Terminal Portuário de Outeiro e Subestação Grão-Pará, também ficaram sob a proteção da Marinha.
No Terminal Portuário de Outeiro, em conjunto com a Guarda Portuária, Fuzileiros Navais realizaram a segurança dos navios de cruzeiro MSC “Seaview” e “Costa Diadema”, que serviram de hospedagem para participantes da COP30.
Um pelotão de Fuzileiros também guarneceu a Subestação Grão-Pará, localizada na avenida Desembargador Paulo Frota, responsável pelo fornecimento de energia ao Aeroporto Internacional de Belém.
Nas discussões sobre questões climáticas, a participação da Força também foi relevante, com a presença do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira” com seus diversos laboratórios embarcados e as pesquisas no bioma atlântico, mas também pela participação em diversos fóruns, como a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica do Projeto Orla, para ordenamento dessa importante área marítima e fluvial, e painéis sobre descarbonização marítima e contribuição para a proteção e sustentabilidade da Amazônia Azul.
Interação com a sociedade
Em cumprimento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e em sinergia com as demandas sociais da COP30, a MB, junto com outras Forças, promoveu ações cívico-sociais e de assistência hospitalar nas comunidades ribeirinhas da capital paraense.
O Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) “Sargento Lima” proporcionou mais de 500 atendimentos de saúde às comunidades paraenses de Outeiro, Itacoã-Miri e Cotijuba.
Proteção às ações democráticas
De acordo com o planejamento das ações de segurança durante a COP30, um pelotão de Fuzileiros Navais foi deslocado para a Zona Azul (“Blue Zone”), espaço oficial onde aconteceram as negociações entre países, a Cúpula de Líderes e as atividades diplomáticas organizadas pela ONU. Esses militares atuaram como frente de dissuasão de distúrbios e controle de acesso, que nessa área era restrito a delegações, Chefes de Estado, observadores e imprensa credenciada.
A atuação da MB também esteve presente nos eventos simultâneos organizados por movimentos sociais e entidades civis. Um dos destaques foi a “Barqueata dos Povos pelo Clima”, manifestação náutica que marcou a abertura da Cúpula dos Povos. A Marinha garantiu uma manifestação sem incidentes nas águas.
Equipes de cães de faro — especializados na detecção de explosivos e de agentes não convencionais — reforçaram a segurança em áreas de grande circulação, realizando varreduras preventivas em estruturas portuárias e locais estratégicos da Região Metropolitana de Belém.
Simulações e demonstrações operativas
Entre as ações de treinamento realizadas durante a COP30, uma das mais complexas ocorreu a bordo do transatlântico “Costa Diadema”, onde militares simularam a retomada do controle do navio e o resgate de reféns. A operação envolveu o emprego de helicóptero e a atuação coordenada das equipes de Mergulhadores de Combate e de Comandos Anfíbios — Operações Especiais da MB.
Além disso, um desembarque ribeirinho também aconteceu durante a Conferência. A demonstração operativa na Praia do Amor, em Belém, simulou o movimento de embarcações de tropa e ações de progressão na areia. Os adestramentos reforçaram a prontidão das tropas empregadas em operações na Amazônia.
NAM “Atlântico”: comando no coração da operação
O NAM “Atlântico” atuou como a principal base de coordenação da operação naval. Com uma estrutura singular e uma capacidade de operar aeronaves, embarcações e sistemas avançados de comando e controle, o navio reforçou a interoperabilidade entre as Forças Armadas e demonstrou grande capacidade de mobilização para missões dessa envergadura.
O Comandante da FNC, Contra-Almirante Antônio Braz de Souza, resumiu a missão da MB durante a COP30:
“Estamos atuando de forma integrada, com foco na proteção de áreas estratégicas, na realização de patrulhas navais e no apoio logístico em toda a Região Metropolitana de Belém. Mais do que uma operação de segurança, a ‘Marajoara’ demonstra a capacidade da Marinha de projetar poder, integrar esforços e servir ao Brasil onde for necessário”, disse.
Durante o período em que o NAM esteve em Belém, 31.451 pessoas tiveram a oportunidade de conhecer esse que é o maior navio de guerra da América Latina. Em sete datas diferentes — de outubro a novembro — brasileiros e visitantes internacionais encontraram o “Atlântico” de portas abertas, podendo conhecer estruturas únicas, como o convés de voo e o hangar de viaturas.
Ciência e segurança: a atuação do “Vital de Oliveira”
A atuação do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico (NPqHo) “Vital de Oliveira” durante o período da COP30 teve como foco a segurança fluvial e a proteção ambiental nas áreas sob responsabilidade da Marinha. Integrado à FNC, o Navio conta com equipamentos de varredura lateral e imageamento multifeixe, além de permitir a identificação de objetos submersos, o mapeamento de leitos de rios e a atualização de cartas náuticas fundamentais para a navegação dos navios que circulam no País.
O Comandante do Navio, Capitão de Fragata Phellipe de Araújo Magalhães, destacou a importância dessa contribuição. “O ‘Vital de Oliveira’ é um laboratório móvel que leva a ciência para o mar. Ele coleta dados da atmosfera, da coluna d’água, do leito e do subsolo marinho, permitindo que o Brasil conheça melhor suas águas e use seus recursos de forma sustentável.”
O Navio também recebeu centenas de visitantes durante dois dias de portas abertas no Porto de Belém, aproximando a população do trabalho científico da Marinha e da importância da pesquisa marinha para a Amazônia e para o Brasil.
Legado para além da Conferência
A presença da Marinha do Brasil na COP30 deixa um legado que ultrapassa os limites da segurança do evento. A Operação “Marajoara” reafirmou a capacidade da MB para atuar de forma conjunta, projetar presença na Amazônia e apoiar a ciência como forma de integração à sociedade.
Entre patrulhas, inspeções, operações de retomada, monitoramento ambiental e acolhimento ao público, a Marinha mostrou que a defesa nacional inclui a proteção do meio ambiente e o compromisso com o desenvolvimento sustentável.

